9/8/2022

O Tribunal de Justiça do Paraná empossou no final de julho 20 novos juízes. Dentre eles está Luís Ricardo Fulgoni, de 35 anos, natural de Volta Redonda (RJ) e egresso do Centro Universitário Geraldo Di Biase (UGB/FERP). No momento ele está no curso de formação, em Curitiba, e atuará como juiz substituto na cidade de Bela Vista do Paraíso, no Norte do estado. Nesta quinta-feira, dia 08, Fulgoni ministrará uma palestra no campus Volta Redonda e falará sobre a sua carreira.

De origem humilde, Fulgoni foi criado no bairro Bom Jesus, no Complexo da Vila Brasília, e estudou em escola pública até o ensino fundamental. O ensino médio foi cursado em escola particular, a ETPC, porém, como bolsista. E, no ensino superior, o curso Direito, concluído em 2010, só foi possível graças ao Prouni.

A trajetória profissional de Fulgoni foi iniciada aos 19 anos, após ser aprovado em concurso do INSS, onde permaneceu por 10 anos. Após esse período, ingressou como oficial de justiça no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, de onde se desligou depois de sete anos, ao ser aprovado no concurso para juiz.

Feliz e realizado com a nova função, Fulgoni afirmou que o convívio e o aprendizado no UGB/FERP foram de suma importância tanto para a sua carreira profissional quanto na vida pessoal. “No UGB foi onde eu me formei e tive todo o contato com o Direito. E logo no início do curso foi o momento mais difícil da minha vida, que foi o episódio do feminicídio da minha irmã. Fui muito abraçado naquele momento. Tive muitas dificuldades de frequentar as aulas, de fazer as tarefas. Contei com muita compreensão da faculdade naquele momento. Passada essa fase difícil, em seguida foi tranquilo. Eu sempre fui muito querido por todos. Foi uma experiência bem bacana na minha vida”, recorda.    

 

 SURPRESA E SUPERAÇÃO

 

         A aprovação num concurso para juiz foi a realização de um sonho, após um longo período de uma árdua rotina de estudos. Mas essa conquista por pouco não foi comprometida por uma notícia inesperada: Fulgoni foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

“Quando eu resolvi começar a estudar para juiz, no início de 2019, estabeleci uma rotina muito forte para mim. Aí veio a pandemia (Covid-19) e o cancelamento das provas. Passei a ter crises depressivas. Eu senti que tinha algo errado e precisava de ajuda médica. Começaram a me dar remédio para depressão, mas não melhorava.  Foi então que surgiu a confirmação do autismo”, recorda.

         A descoberta foi assustadora, um baque, mas vieram as informações sobre a deficiência, o entendimento do problema e, aos poucos, ele foi contornando as crises e retomando a rotina de estudos. “Pensava que autista não poderia ser juiz e iria parar de estudar. Aí fui estudando e entendendo que não era bem assim, que têm muitos autistas que estão no mercado de trabalho, que conseguem se desenvolver plenamente, trabalham, estudam e me encaixei num desses casos. Segui em frente e consegui a aprovação no concurso no Paraná”, comemora Fulgoni.

         Exemplo de superação e espelho para outras pessoas, Fulgoni afirma que todos devem ir em busca de seus objetivos e sonhos, independente da origem e classe social. “Vim da periferia. Acho que não busquei a magistratura antes de tanto ouvir que era muito difícil, quase impossível. Eu fiz faculdade ouvindo isso e tinha a convicção de que eu não queria ser juiz. Os professores viam que eu tinha facilidade com as disciplinas e falavam que eu deveria fazer concurso para magistratura ou Ministério Público. Mas eu sempre falava que não, que não dava, que eu precisava trabalhar, que tinha que sustentar a família. No entanto, quando resolvi me dedicar, vi que não era isso tudo. É difícil, mas é possível”, ressalta o novo juiz, que aproveitou para mandar uma mensagem de incentivo àqueles que sonham com voos mais altos na carreira.

“A mensagem que eu quero passar para as pessoas humildes, pessoas com deficiência, como eu, é que nunca deixem de sonhar. O sonho é o combustível que te move na vida. O sonho pode até não te levar para o lugar sonhado, mas ele vai te levar para um local melhor do que você estava quando você sonhou. Então, a gente não pode deixar de sonhar, precisa ir atrás. É possível através da educação, que muda e revoluciona a vida da gente. Comigo foi assim, me deu oportunidade de ter uma vida um pouco mais tranquila. Não desanimem, vão atrás, porque é possível vencer através da educação”, completa.

         Para a pró-reitora de Assuntos Acadêmicos do UGB, Elisa Alcantara, o sucesso de Fulgoni serve de exemplo e incentivo para outros alunos. “Para nós é motivo de muito orgulho. Mostra que temos um curso de Direito sólido, bem avaliado e que coloca profissionais capacitados no mercado de trabalho. Além disso, reforça alguns dos pilares da nossa instituição, como a inclusão e o acesso a programas de bolsa de estudo, que atendem a muitos alunos”, frisou Elisa.