“Retorno ao convívio social: depois do isolamento estamos prontos para o "novo normal"?
Há 16 meses o brasileiro convive com a pandemia da Covid-19. Nesse período, todos acabaram, de certa forma, sofrendo algum tipo de mudança em sua vida. Aulas passaram a ser remotas, o trabalho virou home-office e muitas formas de lazer tiveram que ser modificadas. Aos poucos, porém, a rotina está voltando ao normal. Mas será que todos estão prontos para retornar às atividades anteriores à pandemia? Haverá algum tipo de impacto pós isolamento? Segundo Camila Resende, professora do curso de Psicologia do UGB-FERP, sim.
“Já há publicações acadêmicas, inclusive, neste sentido. Mudanças bruscas de hábitos advindas das restrições impostas pela pandemia e, especialmente, o distanciamento físico de pessoas importantes para as nossas vidas, como familiares e amigos, nos deixaram em situação de uma maior vulnerabilidade no que diz respeito à nossa saúde mental”, ressalta.
Ela salienta que não há como afirmar que os impactos para a saúde mental seriam em função exclusivamente do isolamento social, uma vez que a pandemia impôs a todos uma série de experiências novas delicadas. Como lembra Camila, todos estão expostos, desde o início da pandemia, a uma situação estressante de duração desconhecida, o que promove diferentes reações em cada um.
“Não há como falarmos de forma única sobre essas reações, uma vez que variam de pessoa para pessoa. Artigos científicos recentes sobre o tema relatam que é comum observarmos desde sintomas isolados, como irritabilidade e aumento da ansiedade, até o desenvolvimento de um transtorno como insônia, ansiedade, depressão e transtorno do estresse pós-traumático”, explica.
Durante este período de pandemia, as dificuldades foram muitas nas vidas das pessoas, não há como generalizar, pois cada um passou por algo diferente. “Depende muito de como cada pessoa tem vivido a pandemia e que tipos de impacto ela e sua família sofreram. Sabemos que ocorreram muitas perdas e muitas mudanças neste tempo. Perdas de vidas, perdas de emprego, mudanças de cidade, de estado, de configuração familiar... para pensarmos nas dificuldades precisamos considerar o que foi vivido por cada um e de que forma foi vivido”, diz.
Sobre a volta a uma vida normal, a psicóloga explica que não há um “modo de proceder” único válido para todos. É algo que depende muito da vivência de cada um. “Percebo, inclusive, que todos já estamos há algum tempo estabelecendo novas rotinas. Por isso, não acredito que haverá um momento em que voltaremos às nossas rotinas pré-pandemia de forma abrupta ou com o mesmo impacto que tivemos no sentido contrário, ou seja, na interrupção de nossas rotinas antigas. Do mesmo modo, destaco que não é possível voltarmos a um vida “pré-pandemia”, simplesmente porque precisamos considerar sua existência na nossa história. Seja na nossa história coletiva, seja na nossa história individual. Não há como seguirmos nossas vidas sem levarmos em conta tal acontecimento”, finaliza.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil