6/9/2021

De tempos em tempos a sociedade brasileira se depara com a sensação que a geração atual lê pouco. Esse é um assunto recorrente, mas será que existe algo comprovado ou é apenas um mito que se cria periodicamente. Na análise do professor Alexandre Batista, coordenador do curso de Letras do UGB-FERP, não é bem assim. Segundo ele, o que existe é uma mudança nos hábitos de leitura das pessoas, com diferentes veículos e plataformas.

“Na minha época de escola já ouvíamos isso também. Na verdade, a nova geração e a anterior foram afetadas por diferentes fenômenos sociais que mudaram suas percepções sobre o material escrito, seja livro, revista ou jornais. Então, as pessoas que já liam continuam lendo na nova modalidade de mídias digitais ou mantêm-se, como eu, ainda agarrados aos textos impressos. Mas estamos lendo. Há ainda a idéia de que ler é ler algo específico, como um romance, por exemplo, ou é o cumprimento de um certo ritual, como estar num determinado ambiente. A leitura é muito mais dinâmica que isso. Ela pode acontecer em qualquer lugar e hora e com qualquer material. O que parece que está acontecendo é que a sociedade brasileira não está conseguindo renovar o público leitor para essas novas mídias. Daí, tem-se a impressão de que as pessoas não gostam de ler”, explica.

         Falando especificamente dos livros, Alexandre concorda que o alto custo de uma obra acaba dificultando o acesso de uma grande parcela da população no Brasil. “Concordo plenamente. O salário mínimo é muito baixo, por isso o preço médio de um livro gira em torno de 10% ou 15% dele. Isso é muito caro para uma sociedade empobrecida que precisa, com esse salário, priorizar suas necessidades mais básicas. A consequência disso é a percepção de que a leitura é um luxo que pode ser dispensado. Daí a dificuldade da renovação do público leitor”, lamenta.

         Para o professor, o problema é amplo e requer uma mudança drástica. E isso passa pela escola, que precisa fazer o papel de grande incentivadora da leitura. “O problema é que a escola se vê envolvida com tantas demandas que a leitura foi sendo mantida no lugar que ocupava no passado, ou seja, a exigência dos clássicos como conteúdo de prova. Hoje precisamos dinamizar essa leitura e incluir outras de interesse mais imediato dos estudantes. É necessário estabelecer diálogos, portanto”, ressalta Alexandre.

Na visão do professor, há como reverter esse quadro, mas é preciso uma união de esforços, com ações envolvendo diferentes setores. “É preciso criar uma política do livro, ou seja, que o investimento numa obra seja reduzido de modo que as pessoas possam comprá-la. Aliado a isso, é necessário que a escola se comprometa com a leitura, que todos os professores das diferentes disciplinas sejam leitores. Só assim os estudantes e suas famílias serão afetados e o público leitor ampliado”, finaliza Alexandre.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil